domingo, 4 de outubro de 2009

JOGO HISTÓRICO


Foi em 2000, na final da Copa Mercosul, o time vascaíno terminou o primeiro tempo perdendo por 3 x 0, para o Palmeiras, e no maior jogo de todos os tempos e em toda a história do futebol mundial, o VASCO DA GAMA virou o placar para 4 x 3, com um gol de Juninho Paulista e três de Romário, sendo o do título marcado aos 48 minutos do segundo tempo, não dando chance de reação para o Palmeiras, em pleno Parque Antártica e com um jogador a menos, já que Júnior Baiano havia sido expulso.


Quantos torcedores começaram a torcer pelo Vasco após essa linda lição de garra? Das minhas ótimas lembranças da infância vascaína, essa é especialmente encantadora. “ É hoje! 20 de Dezembro de 2000, final da Copa MERCOSUL e o time da Nina vai jogar” – falas do papai. Tudo que eu mais gostava se reunia ali: meu pai, minha mãe, Vasco, churrasco, paçoca e guaraná Simba (Queria que meus irmãozinhos tivessem incluídos aí, mas eles não quiseram ver o jogo, comeram e foram dormir).


Eu, então, com 10 anos, me desesperava com a apatia do Vasco diante do Palmeiras e de todo aquele estádio lotado gritando pela equipe alviverde. Eu nunca fui muito boa em aceitar torcida contra e poxa, eles tinham o estádio transbordante de ‘verdinhos’ e o time ia pra cima do meu pobre Vasco com tudo, como se diz. 25 jogadores do Palmeiras contra 3 do Vasco – assim me parecia, já que eu não entendia nada de regras ou técnicas, o que me restava era a intensidade com que cada um jogava, de um lado, o Palmeiras em uma final e, do outro, o Vasco em uma pelada depois de um dia de trabalho.

Com um pênalti, o Palmeiras abriu o placar, toda a minha raiva se converteu em angustia e dali em diante, só me restava chorar miudinho a cada gol que o Vasco sofria, meu pai que é botafoguense, mas antes disso é pai, sofria junto comigo e tentava me consolar dizendo: “É futebol, Nina. O Vasco tá fora de casa, é complicado!” . Um, dois, três... Já somavam três gols. Era uma final e embora eu não entendesse muito bem de regras ou técnicas (como já contei), sabia que aquilo era um número quase que insuperável. Eu falei ‘quase’...

Pior do que ver algo que não lhe agrada, é ver algo que não lhe agrada em repetição e além do mais comentado, cruelmente comentado. O “show do intervalo” pisou com sandálias de navalha no meu coração cruzmaltino, não me lembro dos comentários certinho, mas era algo como: “Inacreditável a soberania do Palmeiras frente ao Vasco...”! “Palmeiras coloca as duas mãos na taça!” E eu só pensava: “Não é justo, não é justo...!”. Nesse exato momento o choro ficou barulhento, e fez tanto barulho que mamãe começou a insistir para que eu fosse dormir, segundo ela, já era tarde e o Vasco já havia perdido mesmo, era bom que eu dormisse e esquecesse todo aquele “trágico” jogo, não fazia bem para uma criança ficar se desgastando à toa. Mamãe que sempre apoiou minha torcida nos jogos, por ser um momento de descontração de todas as minhas angustias infantis, achava que aquele jogo representava um sofrimento desnecessário. Mal sabia ela...


Contra a vontade da mamãe, lavei o rosto e voltei rapidinho pra sala, sentei silenciosamente no sofá, tomando a posição de “caramujinho camuflado”, com as pernas pra dentro da camisa do pijama e um olhar forçadamente desconcentrado pra TV – tudo arquitetado para que mamãe não se importasse mais com minha presença. O Vasco voltava a campo e nos primeiros minutos, o time já ensaiava uma reação, um quase gol, ameaças e ataques – eu só suspirava alto, em uma mistura de esperança e cansaço. Milagrosamente saiu um gol, eu não me lembro de ter comemorado, mas meu pai, sim! Papai me sacudia forte e eu mal conseguia tirar as mãos geladas do abraço com as pernas. O Palmeiras voltava a tentar dominar a partida, mas o Vasco contava com o Romário, né? E o baixinho fez o segundo. Dessa vez papai me deu um choque elétrico de apertões e dessa vez meio que comemorei, com um meio sorriso, uma meia cara feliz, quase o empate.


Após o gol, um jogador do Vasco recebeu cartão vermelho e foi expulso. Papai com sua intolerância com falta de disciplina de jogadores, logo reclamou. E naquela situação papai era quem sabia das coisas ali, papai falou que ele ia complicar o time por conta de uma infantilidade, eu me limitava em acreditar piamente. E piava de agonia, mas nada muito exagerado, mamãe podia me dar um cartão vermelho da sala também. E eu não era infantil, pra aquela altura do jogo ser banida - eu não era infantil, entendam. Mesmo com um a menos, o Vasco partiu forte em busca do empate e não é que aconteceu? Papai ficou absolutamente extasiado, confesso que também fiquei eufórica durante alguns segundos, entretanto a minha cara de choro não se desfez, nenhuma palavra pronunciada, só olhares ansiosos e cheios de expectativas trocados com o meu pai, ele só respondia com olhos contentes: “Vai dar certo! Vai dar certo!”.


Acho que meu pai nunca imaginou minha enorme paixão por um time que nem ao menos era o dele, mas isso não o impedia de cruzar os dedos e ficar com a cara mais confortadoramente animada do planeta, só para que eu me tranqüilizasse. Papai que antes torcia exclusivamente por minha causa, se enfeitiçou pela raça demonstrada pelo MEU time e torcia porque achava merecida uma vitória. Éramos dois torcedores enlouquecidos, ele - empolgado na eletrizante partida e eu – chorosa com o coração batendo apertado.


Quando o último gol foi marcado nos acréscimos, papai me abraçou bem forte e dizia emocionado: “Nina, esse teu time é bom mesmo!” Eu chorava sorrindo, um tio vascaíno me ligou pra comemorar junto comigo e mamãe explicou para ele a minha situação: “Aldir, essa menina quase me enlouquece aqui, ainda bem que deu tudo certo. Porque eu não sabia como ela ia dormir hoje, se esse Vasco de vocês perdesse”. Um instante único: meu pai abraçado comigo, mamãe emocionada por minha causa e meu tio do outro lado da linha gritando algo que eu não entendia, mas compreendia como saudações cruzmaltinas.


Eu que sempre tive uma vontade secreta de ‘entrar’ na TV, nunca vi essa vontade tão aquecida quanto naquela noite. Eu queria abraçar todos os jogadores, queria segurar a taça, participar da chuva de papel picado e cantar meu amado hino em um coro entusiasmado. Mãe é mãe, mãe flamenguista de filha vascaína é vascaína, o que prova que ela sempre soube das coisas. Eu era uma criança e os meus ânimos foram ao extremo aquele dia, meus sentimentos foram do ápice da tristeza, para a ponta da mais profunda alegria, e em um desmaio a noite acabou para mim.


Apaguei no sofá da sala e papai me transferiu no colo para meu quarto. Sonhei com os jogadores, com o hino, a taça, o gramado – tudo muito embaralhado, mas existia uma faixa: VASCO CAMPEÃO!... E acordei (ao meio-dia, para não perder o costume) sorrindo, mas sem saber se meu sonho havia acontecido na realidade. Constatei que era verdade (que ótima verdade!), quando na mesa do almoço, papai disse: “Essa menina besta chorando ontem à noite, sempre soube da vitória do Vasco...” Eu só sorria toda orgulhosa para os meus irmãos. E esperava logo que o almoço acabasse, para que eu pudesse me retirar da mesa. “Melhor do que ver algo que lhe agrada, é ver algo que lhe agrada em repetição e além do mais comentado, magnificamente comentado. Eu fui correndo pra TV, não podia perder o Globo Esporte, né? E esse não ia pisar com sandálias de navalha no meu coração, ia só fazer carinho, só carinho... haha”



terça-feira, 22 de setembro de 2009

É que eu amo demais...



Era uma vez a minha vida, sem graça e meio batidinha. Uma menina coadjuvante em sua própria história, os contos eram sempre os mesmos. Faltava ação, faltava paz, faltava; sobretudo amor. O que a falta de amor, não faz a uma mulher? (me denomino assim, porque a palavra ‘mulher’ exprime uma feminilidade incrível; entretanto sei bem que não passo de uma menina, e sinceramente não acho isso dispensável).

Uma mulher carente fica frágil, suscetível as maiores crises, com mania de implicância – tudo fora do lugar... Vaidade passa de um critério supérfluo á obsessão, com a rapidez com que a falta de amor destroça um coração saudável. Beleza sempre parece essencial para galgar um amor, principalmente nas horas que é de um amor que se sente falta. Tudo que está ausente é exatamente o necessário para o bendito amor aparecer.

Embora eu tivesse um amor, não era o amor- amor, entende? Eu ia levando uma relação morna SOZINHA há alguns anos. Assumo envergonhada: eu sofria de acomodação, eu me contentava em amar pela metade. (Isso é lamentável em todo seu feitio). Amar pela metade me fazia desprezível e era bem assim que eu enxergava a maioria das coisas lindas dessa vida, com desprezo.

Hesitei muitas vezes em ser feliz, em abandonar a estabilidade de uma vida amorosa medíocre, que me fazia medíocre. Imaginem só, a menina intensa em tudo que faz, amando pela metade, fracassando e achando isso natural. Fracassar é natural, mas achar que vai fracassar para sempre é um erro. Achar que o amor chegou ao topo, é outro erro, um erro de grandeza maior, inclusive. O amor nunca chega ao topo, o amor sempre pode crescer, pode crescer porque eu ainda acredito na melhora das pessoas. Mas eu era uma pessoa que não melhorava, por isso o amor não crescia. Eu queria mesmo era que o relacionamento acabasse sem minha intervenção. Calma aí, como eu seria protagonista de uma história que o destino tomava todas as decisões? Hein?

Por sorte, o destino se encarregou de me deixar BEM abusada, porque não é só o excesso que causa abuso, a falta também tem esse poder, até mesmo porque eu tinha excesso de falta. Justamente isso! Não importa, só sei que a felicidade fez ‘ding-dong’ na minha campainha e eu abri. Abri de alma lavada, de coração livre, querendo urgentemente amar, abri a porta e lá estava alguém muito especial. Ele me encontrou e eu o encontrei, sem meios e fins [esse encontro, nós dois, esse amor – essa era a música da época], e de repente tudo fazia mais sentido. Como a vida era linda naqueles tempos...! Eu tinha minha própria história de amor, tudo se encaixava perfeitamente.

MAS “todo grande amor só é bem grande, se for triste...” Nesse sentido, eu sofri, mas fui muito feliz, feliz como nunca havia sido até então (com alguém). Nesse encontro eu descobri o real sentido da palavra “perda”, soube como acontece o temido “ir atrás” e ainda reconheci o significado maior da expressão “CRESÇA!”. Enfrentei “olhares invejosos”, “intrigas”... “receios”. Eu abusei da coragem, fui covarde quando necessário e até me deixei ficar vulnerável – Não é exatamente isso que o amor exige? Eu fui com tudo e sem nenhum arrependimento.

E quando “crescer” tornou-se requisito essencial para o prolongamento daquele amor: Eu cresci! Cresci porque era necessário, mas tomei apreço e cheguei a um estágio superior, desproporcionalmente maior do que aquele romance exigia. Ficar junto é complicado, ou se está junto, ou não está (e felizmente, eu sou leal demais para estar junto sem estar). A essa altura de amadurecimento, eu não suportaria levar outro namoro sozinha, não depois de saber como o amor acontece, não com tantas lembranças boas na cabeça na iminência de virarem aversão. Sai sofrida, mas ocupando o papel de protagonista da minha própria história, a sensação de arrependimento podia acontecer, mas em razão do atrevimento, não mais por acomodação, isso por si só já me fazia alguém tão melhor.

“amor é coisa de ir, mas também é coisa de voltar...” Eu fui! Dessa vez não vieram carências, nem crises, nem manias de implicância, veio reconhecimento, uma coisa que eu buscava há muito. É difícil olhar no espelho e não saber quem é você, porque “ser você” se confunde com “estar com alguém” – Eu era Nina, mais do que nunca, sem traumas e concussões, totalmente em paz com a pessoa que eu havia me tornado. Não falo de “bola cheia”, nem de “auto-estima dando piruetas no céu”, falo de autoconhecimento. Eu que conheci o amor querendo “urgentemente amar”, porque temia que meu coração secasse (que tola!). Percebi que amor nunca vai me faltar... Se faltar, antes que meu coração seque, eu já morri sufocada. Amar, para mim, é algo embutido, indissolúvel.

Eu amo naturalmente, tal qual respirar... Amo a minha nova forma de encarar o amor. O amor me modifica e eu modifico a forma como ele opera na minha vida. Dessa vez, imagino tudo muito livre, tudo com muita calma. Nada mais de desesperadamente tomar posse, não sou mais a mesma de alguns seis meses atrás, essa nova Nina aprendeu que amar é coisa séria, que sentimento prende mais que qualquer outra coisa e que transparência conquista.

Se antes, deixar o destino agir por conta própria me fez perder tempo e me afastou do tão sonhado cargo de protagonista. Hoje, novamente, deixo que ele tome conta de mim, não que eu não saiba para aonde ir e não interfira incisivamente, mas é que ele tem sido tão meu amigo, tão parceiro – digo: agimos em conjunto. Na MINHA história tem Nina, tem destino, floresta, seres encantados, fada madrinha, bruxa má (ECA!), esquilinhos do castelo, cisnes e príncipe. Ta, falta o felizes para sempre, eu sei... Mas quer saber? Eu tenho amor, 19 anos e uma vida inteira pela frente. “Felizes para Sempre” é um Adeus, é a última página do livro sendo lida, é a última cena da novela. Vou amar interminavelmente, estou amando e logo logo não serei a mesma.

[ESPERAAA] Fiz uma ligação: Se amar me transforma e eu amo sempre, é justamente por isso que eu não costumo ser constante. E a galera falando em bipolaridade... “É que eu amo demais, gente”... “É que eu amo demais...”

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

- ... acabou de entrar

Pililim. (Pseudo-onomatopéia do barulho do MSN)

- ... acabou de entrar.

Aquela janelinha surgindo de repente foi um alívio praquela menina que ainda encarava seu mundo virtual um tanto paralisada e analítica. Parecia que ele previa que ela precisava dele, afinal ele raríssimas vezes apresentava-se online. Ela sabia que podia contar com ele. Sempre pôde.

Paralalam. (Pseudo-onomatopéia para chamar atenção)

- Preciso de você.

Talvez ela tenha iniciado a conversa em meio a algumas lágrimas. Mas quem precisava saber disso? Ali era só ela e seu ciber espaço e não havia como ter conhecimento do que verdadeiramente ocorria entre as quatro paredes do seu quarto lilás e branco. O pedido de socorro era sincero, mas o seu verdadeiro estado de espírito era um segredo até pra ela própria.

Como tantas outras vezes, ele lhe atendeu prontamente. Era eficiente quando preciso. Mais do que isso, ele lhe fez sorrir. Um sorriso ainda molhado é verdade, mas um tímido sorriso de alívio. Não que a situação tenha se tornado magicamente mais simples, mas era tocante como ele insistentemente buscava provar pra garota que ela estava errada quanto aos seus sentimentos. Uma tentativa admirável de tornar as coisas mais simples para ela mesma.

- Eu adoro quando você faz isso, sabia?! Quando tenta simplificar meus sentimentos, mostrar que eu estava sentindo outra coisa, só pra tudo ficar mais fácil.

Depois da declaração, ela mudou de ânimo e mudou também de assunto. Voltaram a fazer planos. Era sempre assim quando um dos dois enfrentava algum problema: eles faziam novos planos. Alguns pouco realmente se realizavam. Mas isso era o que menos importava já que o bom mesmo era imaginar as coisas se encaixando perfeitamente.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Oi, mamãe razão!


Não gosto muito de viajar, isso sempre me causa frio na barriga e insônia no dia anterior. Mesmo que a viagem seja para um lugar, que eu sempre vou e sem ao menos pestanejar sei o caminho de ida e de volta, que no caso é o mesmo só que o contrário. Ia viajar de ônibus para Floriano, sozinha e a noite. Apesar da preocupação exagerada da mamãe e da Tia Deda, eu saberia me virar muito bem sozinha. Saberia porque eu já sou grandinha, eu não ia me perder em uma parada do ônibus e nem aceitaria balinha de estranhos.. Com todos esses problemas, eu conseguiria lidar muito bem.


Mas por ser grandinha, eu também já acumulo algumas preocupações de gente grande (ou quase isso) e ser quase gente grande, esse sim era o meu maior problema. Abrigar um duelo interminável dentro de mim, quer dizer da Nina dos pés a cabeça, era algo bastante aborrecedor. Eu ia passar mais de 3 horas no escuro, muito provavelmente sem sono, desacompanhada, ou melhor, acompanhada apenas pelos dois: o coração e a razão – o interminável embate, porque quando se tem 19 anos, tudo que esses dois menos querem é andar lado a lado. Há dias eu adiava esse encontro, usando as velhas táticas utilizadas desde os 13 anos - deitar para dormir somente quando o corpo já está em fase de desmaio e ocupar a mente com qualquer coisa, até mesmo com problema alheio, vale tudo, exceto me atrever a pensar em pensar nos meus próprios problemas.


Inevitavelmente, ia ser hoje! Eu só teria uma única chance, se quem sabe em um golpe de sorte, sentasse ao meu lado um conhecido e florescesse algum assunto habitual e eu obrigatoriamente não precisasse me concentrar em mim, digo: neles. Passaram algumas pessoas desconhecidas e ameaçaram sentar ao meu lado, primeiro um policial – qual assunto eu teria com um? Eu não gosto de policiais, sempre sonho que sou perseguida por um deles, não que eu ande praticando algo de errado, tudo bem que ultimamente eu tenha feito algumas besteirinhas, mas já disse, são besteirinhas, nada que um policial precise me levar algemada, correto? Depois passou uma moça novinha com um bebezinho (guti-guti, coisa linda, bonitinho da mamãe) de colo. Eu adoro crianças, mas não agüentaria escutar um bebê chorando do meu ladinho, isso seria desesperador. Eu tenho pavor a choro de bebês, meu coração dói, minha respiração fica falhada e minha única vontade é correr pra bem longe. Mas para onde eu iria? Bebês... só com espaço suficiente para fuga.


Ninguém sentou ao meu lado e eu já sabia o que me esperava, o acerto de contas iria começar. A razão inquiridora estaria ali, cobrando respostas convincentes para as inconsequentes atitudes do coração. Que tola eu sou! Esqueci de apresentar corretamente os dois duelistas. A razão era a mãe cuidadosa do filho adolescente (rebelde, mal humorado e cheio de espinhas) coração. Os dois se amavam, afinal, formavam uma família, mas existiam tantas oposições de ideias, tantos conflitos, que uma zona de divergência acontecia dentro de mim, com direito a choques violentos e berros ensurdecedores.


A razão era uma mãe um tanto quanto liberal, ela deixava com que o coração agisse livremente, acreditando que somente assim ele poderia alcançar a maturidade, entretanto não se furtava do papel de repreendê-lo, quando a liberdade havia sido utilizada indevidamente. Dessa vez, aconteceu justamente assim, o filho cheio de devaneios agiu com uma pressa irrefletida, a ânsia de garoto se fez presente, a mãe prudente e rígida teve que intervir nas atitudes do filho. O coração não se conformou com a castração da mãe e argumentava com uma coerência de adulto, a mãe defendia com pulso firme uma opinião contrária a do filho. Tantas palavras, tantos gritos, tantas explanações e eles estavam falando da minha vida, do rumo da minha única vida – eles brigavam pela escolha dos caminhos que eu deveria tomar e tudo que eu mais queria era gritar: Já chega!!


Apesar de tentar agir com imparcialidade, não posso negar minha empatia pelo coração, até então, sou apenas filha, entendo o quanto é complicado pensar muito direitinho, quando tudo passa tão rápido, é paft e puft e a gente precisa de uma decisão, de uma iniciativa. Quando dá pra pensar, tudo bem, a gente pensa. Mas nem é sempre, né? E afinal de contas, temos mamãe...

Mesmo quando eu brigo com a minha mamãe, nunca sei quem tá correta de verdade, eu defendo meu lado -que eu não sou besta nem nada- mas eu não sei como seria se eu fosse a mãe, sabe? Muito provavelmente eu agiria que nem a minha mãe, como a vovó deve ter agido com a mamãe e assim regressamente. Da mesma maneira, sei que os dois pensam de acordo com suas respectivas verdades. A mãe razão não quer que o filho coração se machuque por amá-lo demais, ao mesmo tempo não pode impedi-lo de tentar, mesmo que essa tentativa o exponha a transtornos irreparáveis. Toda mãe quer que o filho cresça, mas nenhuma mãe quer que o filho sofra. Mas acaso, já ouviu falar em crescimento sem sofrimento?


Meu coração faz muita burrice e sua mãe razão tenta contornar, às vezes até que dá certo, em outras a lambança fica ainda maior. Então volta o filho arrependido, a mãe tenta dizer que avisou, mas mãe que é mãe acolhe de braços abertos e oferece a barra da saia pra o filho enxugar as lágrimas. Mãe que é mãe não admite que ninguém aponte o erro do filho, ainda que ela mesma tenha consciência disso.


Vim a viagem inteira pensando em como eu tenho encaminhado a minha vida, em quantas circunstâncias eu só ouvi o coração e o quanto ser filha adolescente é complicado, a fase é de libertação, apesar de todo mundo saber que nunca se liberta completamente da mãe. Minha mãe ligou dizendo que eu não deveria descer quando o ônibus parasse, por causa dos perigos existentes na vida blábláblá e lá vão mil precauções... Acho isso a maior bobagem do milênio. Mas hoje, justamente hoje, eu resolvi obedecer, todo os passageiros desceram e eu fiquei parecendo uma abestalhada sentada sozinha. Fiquei porque ainda que minha mãe não esteja com a razão, ela é mais coração, ela é mais Nina. Ela é a parte mais cuidadosa de mim, ela me quer tanto bem... Obedeci e não me arrependo.


Cheguei em casa fazendo birra e falando o quanto ela é bobinha, ela só sorriu e disse: Mas você tá aqui vivinha da Silva. Tá bom pra você? haha Tava ótimo pra mim. Não desci e a mulher que tava do lado esquerdo da poltrona da frente desceu e voltou reclamando da quantidade de bêbados que deram ‘fiufiu’ e falaram meio mundo de obscenidades pra ela, enquanto a bichinha só ia comprar uma coca (cola, né?). Já pensou se fosse comigo? Eu ia no mínino arranjar uma confusão, eu já disse o quanto eu odeio provocações? Eu não ia pensar, mano. Eu ia chegar logo era quebrando tudo. Quem dá psiu pra mim nessa porra aqui, heein? Mamãe tinha razão, foi melhor eu ficar ali sentada quietinha... (Mamãe sempre sabe das coisas!) Caso contrário, talvez eu voltasse mesmo era quebradinha da silva. Não sorri, cara. Não é legal...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Oito Anos


Uma visita inesperada bateu à minha porta, certa vez.
Não, minto. A justa palavra anda longe de ser ‘inesperada’. A sua presença de espírito e o seu humor contagiante não combinam nenhum pouco com esse adjetivo. Reescrevo, então, a minha frase: Uma visita surpreendentemente programada bateu à minha porta, certa vez.

Desde muito tempo venho definindo-a com uma das minhas mais antigas e fiéis amizade e isso é um troféu que pouca gente carrega. Como ela mesma fez questão de enfatizar nesse encontro, são oito anos de estrada. A cortesia inicial então deu lugar à um tom de ameaça.

- Não é justo o que você está fazendo. Somos diferentes demais pra alguém prever que um dia seriamos tão amigas. Mas somos e você está me abandonando. Você está abandonando tanta gente.

A força das palavras me pegaram em cheio. Enfim, alguém tinha percebido que eu andava fugindo. A pergunta a seguir era: de que eu fugia? De tanta coisa, de tanta gente. Em essência, eu fugia de uma eu que não queria mais encontrar. Temia dá de frente com ela e perder o controle. Sim, porque agora eu detinha, novamente, o controle da situação e isso me assegurava um orgulho próprio ainda maior. Mas não era justo esconder isso dela. Depois de tanto tempo correndo atrás de todo mundo, finalmente alguém havia voltado por mim. Respirei fundo e proclamei uma série de justificativas que eu havia ensaiado cuidadosamente, na esperança quase moribunda de que algum dia alguém retornasse. Ninguém nunca tinha escutado essas palavras, minha amizade de oito anos adquiriu a informação em primeira mão.
Num suspiro profundo o suficiente pra que ela pudesse processar a informação, ela sorriu e disse que me entendia. E isso me confortou tanto. O que em alguns momentos eu mesma tachei de covardia alcançou um contexto bem melhor. Nada estava abalado. Ela só me queria de volta, presente. E eu à prometi que estaria novamente presente para ela. E então colocamos o papo em dia. Devoramos uns sanduíches enquanto narrávamos as últimas revira-voltas de nossas próprias vidas.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Show Pirotécnico


- Eu quero um namorado assim!

Foi o que chamou a sua atenção. Foi essa declaração boba, quase que despercebida, que fez com que ela começasse a realmente perceber ele de verdade. Perceber ele como o seu namorado. E ela se perdeu em seus próprios pensamentos.
Ela e seus botões.
Aquela mesa enorme, cheia de gente dando risadas e conversando, mas ela, somente ela sabia o motivo do seu sorriso, de orelha a orelha. Ela e seus botões.
E olhava pra ele, com um jeito diferente agora. Jeito de quem tenta perceber mais algum detalhe que pudesse ter deixado escapar. Não era justo deixar passar detalhes dele, afinal ele tava ali com ela, presente.
Em alguns minutos, pôde perceber o porquê daquela declaração espontânea. Era fácil agora dizer. Ele a fazia rir. Muito. Espontaneamente. Enormes gargalhadas. Sem a vergonha de que talvez pudesse está sendo muito barulhenta. Era só natural. Ele possuía uma coisa que há muito tempo ela não via. Mais do que isso, ele fazia ela sentir uma sensação tão boa que ela já tinha esquecido que era de verdade.
E como se ele pudesse perceber o show pirotécnico que rolava em sua imaginação, ele parou tudo e olhou pra ela. Como se tentasse adivinhar as borbulhas que estavam acontecendo ali dentro. Ela não conseguia e não queria disfarçar, estava feliz demais.

E o beijou. Só pra ter certeza que era de verdade.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Silêncio. Absoluto e vazio!


E na verdade, ela falava demais. Espontânea e explosiva em quase tudo. Sempre foi assim. Não mudava e tão pouco queria isso. Mas os olhares dele é que agora a importunava e perseguia. Não porque ele revirasse os olhos e fazia cara feia, juntamente com suas mais novas amigas, enquanto ela dissertava a opinião a respeito de alguma coisa qualquer. Mas sim porque ela temia que em algum momento ele simplesmente desejasse nunca tê-la tido. E posso afirmar, com a certeza de quem conheceu a história, que ela já foi dele e ele já foi totalmente dela.

Agora? Bem, agora só restou o silêncio. O mais absoluto e vazio silêncio. Até mesmo o “bom dia!”, raramente ofertado um ao outro, é carregado de um nada. Ela garante que isso vez ou outra dói. Dói bastante, pra ser sincera. Afirma que há sim momentos em que se segura pra não gritar com ele. Berrar, pra ser mais exata. O suficiente apenas pra que ele entendesse o quanto isso tudo é idiota. Mas ao ser questionada sobre o que diria, declara somente que as palavras lhe causariam ainda mais dor e ao fim não valeria a pena. E é por isso que ela continua muda, contraditoriamente introspectiva e reservada.

Ele faz parte dela agora, independente do que ele faça. Mas, em nome da boa memória, evita olha-lo nos momentos em ele faz uma careta por sua causa. Não quer desejar não tê-lo tido. Afinal, num passado não tão distante, ele foi dela e ela foi dele. Um dia ela saiu de casa num carro cheio de homens de preto, escutou música alta e que não fazia nem um pouco o seu estilo, e gostou. Gostou principalmente porque ele gostava e ela gostava dele.

Hoje? Hoje só restou o silêncio. O mais absoluto e vazio silêncio.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Teste de tédio (leia-se: doença)


Eu estive, ou melhor, estou doente. Escrevo em um estado incontestável de fragilidade, e temo violentamente que essa fragilidade tenha se alastrado para o meu intelecto. Ficar doente me atribui um dom inigualável de questionamento, não só pelo longo e tedioso tempo que eu passo sozinha, mas pela minha atribulada mente que me redimensiona varias coisas, e depois insensivelmente me faz latejar o pensante córtex com problemas bobos, mas que para mim, residente em uma cama deleitosa, sobrevivendo a base de sopa, transvestir-se de monstro e me aterrorizar é uma tarefa bem ‘molezinha’[intensifica-se assim o tamanho da fragilidade.]

Em uma dessas noites de insônia eu me percebi seriamente engasgada e isso me fez sentir uma sensação de sufocamento, eu podia ter morrido ali de asfixia, no chão de um banheiro... No caso, o meu. Passei alguns segundos sem conseguir respirar, mas acho que o meu cérebro ainda assim continuava sendo oxigenado, porque eu fui capaz de pensar em várias coisas e conclusões brilhantes me atormentaram... Ou me deixaram intimamente aliviada.

Não cheguei a pensar em família, ou nas pessoas que chorariam no meu velório, o estranho é que eu pensei em pessoas que eu nem mesmo cheguei a conhecer e que se o meu ar não voltasse, certamente não iria conhecer e isso realmente me causou um tormento. Tecnicamente, eles não me deixariam saudades. Mas eu senti medo de não viver isso. Eu que sempre vivi pensando em não temer a morte, pensando que eu já havia deixado as coisas aqui encaminhadas... Por um instante instiguei uma forjada respiração, tentei a todo custo me desentalar. Acho que eu lutei pela minha vida, claramente não foi algo que me validou um titulo de guerreira ou coisa assim. Mas eu quis viver, quis voltar a estar presente na minha vida.

Tantas preocupações com um futuro... E eu podia imediatamente não ter um. Sei que pode parecer irresponsabilidade, mas nunca me ausentei tanto de um eu, para estar presente em outro. Deparei-me com uma resposta racionalmente desesperadora: Só se teme algo quando se desconhece o que é morrer. Você não precisa se preocupar com casamento, com profissão... Se de repente a morte pode tirar-lhe tudo e mais um pouco. Mas vamos lá, depois que eu retornei a meu estado normal, recobrei a respiração e o juízo. Voltei a pensar confusamente desesperada, nos afazeres, nas responsabilidades, nas provas, no fatídico e cíclico dia de amanhã. Esse não deveria ser o pensamento de alguém que há instantes atrás quase desfalece. Mas acredite, era. Culpa do mundo capitalista? Da fugacidade dos pensamentos juvenis? Bem, eu não sei...

Como eu ainda estou doente, me habilito de tempo o bastante para pensar no porquê disso e daquilo e para me deleitar sobre as minhas crises existenciais, crises extraterrestres, crise capilares e demais crises que possam acometer alguém que sequer reúne forças para levantar da cama. Eu não sei até quando vou viver até porque nem consultei um médico ainda. Mas parece que o medo de morrer só me ocorre na hora que eu acho que eu vou morrer [risos].

Enquanto isso, sei que vou continuar sendo a Nina pouco cautelosa... Que sempre dá passos maiores que as pernas, que parece que vai viver só até amanhã quando quer algo, mas que prolonga as tarefas como se fosse viver eternamente.
Bem, se for pra morrer. Digo que na encarnação seguinte quero ser uma borboletinha, a ideia de viver apenas 24 horas é muito atraente. [leia - se: Encontro-me entediada, por isso relevem.]

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O Jornalismo é uma profissão, sim!


Ando abalada desde ontem, quando o STF decidiu pela não obrigatoriedade do diploma de Jornalismo. Por conta disso, decidi procurar alguém que soubesse descrever toda a minha revolta. Achei esse texto do Rogério Christofoletti, doutorando em Jornalismo na Usp e que certamente fez por merecer seu diploma.


"Se você tiver uma dor de dentes agora não vá a um dentista. Se sofrer um acidente de trânsito, não ligue para seu corretor de seguros. Se a Justiça está na sua cola, não tente seu advogado. Se estiver na hora do parto, nem pense num médico. Para curar a dor, vá até a farmácia e peça ao balconista um remedinho que dê jeito. Para resolver o problema da franquia, acione o despachante da esquina, que também poderá dar uma solução para seu processo no fórum. Por fim, se estiver na hora de o bebê chegar, chame uma parteira.

Em todos estes casos, você pode ter encontrado uma saída barata e rápida. O que não quer dizer que a solução foi a melhor, a mais segura ou a definitiva. Estes exemplos banais mostram a importância da capacitação profissional no dia-a-dia, e quanto é preciso reconhecer e defender estas condições.

O mundo mudou, as sociedades tornaram-se mais complexas, o trabalho passou a ser dividido cada vez mais e certos conhecimentos se desenvolveram de tal forma que se constituem terrenos próprios de saber. Assim, embora médicos, dentistas e veterinários estejam todos atuando na área da saúde, cada um realiza seu trabalho. Bem como arquitetos e engenheiros, jornalistas e publicitários, advogados e promotores. Uma profissão é um conjunto de conhecimentos, técnicas e formas de relação com o trabalho, que define uma atividade específica. Quando temos um grupo social que desempenha as mesmas funções temos uma categoria profissional.

Jornalistas são profissionais específicos. Têm uma visão muito particular da sua função, recorrem a técnicas para exercer sua profissão, têm uma deontologia própria que ajuda a circunscrever os limites de sua atuação no campo social do trabalho. Saber escrever um lead, fazer um perfil, editar um bloco de notícias, baixar uma página são algumas das atividades exclusivas a jornalistas. Da mesma forma, fazer petições, escrever uma defesa ou representar um cliente nas barras de um tribunal são funções de um advogado. Cada um faz o que lhe cabe. Mas e se o advogado quer escrever num jornal, ele pode? Desde que seja a título de colaboração ou como comentarista de sua área específica. Reportagens e matérias noticiosas, não. Jornalistas também podem ser consultores de advogados, certo? Certo, mas representar o cliente ali diante do juiz só mesmo o seu representante legal.

Então, é preciso entender que a discussão acerca da obrigatoriedade ou não do diploma remonta a uma série de questionamentos anteriores. A ponta do iceberg chama a atenção, mas a sua existência depende da massa de gelo submersa que lhe dá sustentação.

É preciso que não se caia em armadilhas e que não se cometam impropriedades. A primeira armadilha é confundir liberdade de imprensa com regulamentação profissional. Para não ferir a liberdade de imprensa, a juíza Carla Rister soterra as regras, as condições e as atribuições que definem a atividade profissional do jornalismo. O equívoco é tão grosseiro que corresponde a confundir justiça com capacitação profissional do advogado. Tanto liberdade de imprensa quanto justiça devem existir, precisam vigorar, mas são valores que precisam ser cultivados, reforçados e se referem a um contexto maior. A capacitação do profissional que vai exercer o jornalismo ou o direito independe da liberdade de imprensa ou do quociente de justiça. Tal capacitação é o resultado da formação técnica que teve, do repertório cultural que vem montando, de sua capacidade de resolver problemas, de sua inteligência e sensibilidade, da maturidade para encontrar soluções, enfim, de um complexo processo de subjetivação que alia condições internas e externas. Todos podem ser advogados, jornalistas ou juízes, desde que se habilitem para isso. O acesso à escola – a juíza acusa de elitismo a obrigatoriedade – é um direito, mas não é desregulamentando profissões que ampliaremos as vagas nas universidades.

Frutos do jornalismo

Um dos argumentos: o Brasil é um dos únicos países que mantêm esta obrigatoriedade, coisa que os países mais desenvolvidos simplesmente dispensam. Pois bem, o Brasil não tem as leis rigorosas que os demais países têm; o Brasil tem larga tradição de concessão de emissoras de rádio e TV como moeda política, o que não acontece acima da linha do Equador; o sistema de comunicação brasileiro é apoiado em oligopólios comerciais e oligarquias políticas, o que nem sempre se dá lá fora; como a mais poderosa e "livre" nação do mundo, a imprensa brasileira trouxe à tona reportagens que culminaram na deposição de um presidente da República; as comparações podem ser feitas aqui e acolá, mas regulamentação profissional deve ser entendida como avanço, e não retrocesso.

Para muita gente, o diploma de jornalismo é dispensável porque "as escolas são ruins", "não formam os profissionais direito" e "a técnica se aprende em poucas semanas". Mas, se as escolas são ruins, a responsabilidade não é do dispositivo legal que regulamenta a profissão, senão seria como culpar o código de ética do advogado pelas injustiças praticadas nos fóruns. Se as escolas de Comunicação são ruins, porque os veículos empregam os recém-formados? Se as escolas não formam, são as redações que ensinam o jornalismo? Quantos jornalistas experientes estão nas redações e dão suas preciosas atenções aos focas? Quantos?

As escolas podem não oferecer a formação adequada, mas é um avanço que existam e permitam que os novos profissionais cheguem ao mercado com um nível de formação formal e técnica, em vez do que era antigamente. Jornalismo era bico, hoje é profissão, que interfere na vida das pessoas comuns e na das mais influentes e poderosas. Não dá para recuar.

É equivocado pensar que jornalismo é uma questão de talento. Não é. É uma questão de rigor, de critérios, de vontade, de vocação, de indignação social, de habilidade de escrita, de agilidade no raciocínio. E isso se aprende também. O aluno pode chegar à universidade com um bom caminho percorrido, mas é na escola que vai ser bombardeado de informações e vai despertar para uma série de novos caminhos e oportunidades. Engana-se quem pensa que pode aprender jornalismo em poucas semanas. Se isso acontecesse, as escolas teriam tantos semestres? E nós, professores, teríamos que repetir tanto e tanto como se faz uma legenda ou uma abertura de texto?

O jornalismo é uma atividade complexa, dinâmica e que depende muito da formação cultural e técnica de quem o exerce. Depende de acurácia, de percepção fina, de vontade de trabalhar e refazer tarefas. Só quem está devidamente habilitado pode fazer uma extração de dentes ou escrever uma sentença de morte, bem como escrever o roteiro de uma entrevista ou ainda fazer uma matéria investigativa sobre a corrupção no Judiciário. É evidente que há exemplos de bons jornalistas que não passaram pelas universidades, mas todos estes são de tempos em que não havia tal exigência, e são claras exceções. Ricardo Kotscho e Paulo Francis, Millôr Fernandes e tantos outros são exceções dos não-formados. Do outro lado, dos que passaram pela educação formal das universidades, estão Gilberto Dimenstein, Clóvis Rossi, Caco Barcelos, Carlos Nascimento, Neide Duarte, William Waack, Paulo Markun e uma lista interminável. E neste caso eles não são exceções, são frutos dos cursos de Comunicação e da própria luta pessoal na ascensão da carreira.

Doutor, só médico

Dispensar o diploma hoje é como rasgar o documento do obstetra e reconvocar a parteira em seu lugar. Ela pode ser hábil, atenciosa e certeira, mas não teve acesso aos conhecimentos do médico, não dispõe das mesmas condições de operação e expõe as gestantes a riscos maiores. Tempos atrás, quase não havia obstetras, e sempre se recorria às parteiras. Mas o tempo passou, e jogar o diploma do médico no lixo é voltar atrás, permitir-se involuir.

O mesmo se dá com jornalistas. O jornalismo ainda está distante do que pode ser nesta república. Ainda há muito o que fazer, mas avanços têm se dado. E eles não podem ser ignorados. O tempo não pára e o tempo não volta...

Mas eu alertava no início deste texto que era preciso não cometer impropriedades, e a primeira delas, a mais banal, é chamar advogados, médicos e juízes de doutores. Doutora Carla Abrantkoski Rister, por exemplo. Mas doutores de que, se não fizeram doutorado? Advogados e delegados são bacharéis em Direito, assim como jornalistas são bacharéis em Comunicação. Curioso, não?"

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A minha pessoa


- Ele é uma extensão de mim.

Foi assim que o defini. Simples. Compacto. Perfeito pra nossa relação. E continuei o papo informal, entre uma dose e outra do meu suco preferido e lembranças desgovernadas. Exaltando suas qualidades, contando orgulhosamente casos e acasos dos cinco iniciais anos de amizade.

- Mais importante do que apresentar alguém pro meu pai, é apresentar esse alguém a ele. É, ele é a minha pessoa.

E me peguei suspirando fundo mais uma vez, sentindo a satisfação entrando por meus pulmões. Junto com aquilo tudo, vieram também mais memórias. As boas e gostosas recordações. Aquelas que fazem a gente sentir uma pontinha de saudade acompanhada com um desejo enorme de replay.

- Ele esteve presente quando meus príncipes viraram sapos. E até em alguns raros casos onde os anfíbios se transformaram em membros da realeza.

E desisti de me concentrar na conversa que tomou um rumo desconhecido por mim. Fiquei apenas comigo mesma, aproveitando atônita os nossos melhores momentos. Ou os piores, que depois sempre acabavam resultando em boas risadas. Como um certo aniversário onde ele era meu príncipe ausente ou uma certa festa onde ele foi de bom grado meu objeto.
Houveram promessas também. Claro, sempre há. Prometi, por exemplo, que ele será o padrinho do meu primeiro filho. E também há aquela clássica: “A gente vai pro baile da terceira idade juntos, tu com tua esposa chata e eu com meu marido rabugento. Mas tem problema não, dançamos um forrozinho juntos.
Meu irmão. Sempre desejei um quando criança e o ganhei de presente. Bem melhor do que encomenda. Fizemos planos, devaneios na maioria das vezes. No terceiro ano planejamos nos mudar pro Maranhão, estudar e morar juntos. Ele lavaria a roupa e eu faria a comida. Ao fim da discussão, quando concluímos que isso não tinha como dá certo, decidimos mesmo comprar comida congela e mandar lavar a roupa na lavanderia.

Num grito de alerta, acabei despertando da viagem no túnel do tempo e retornando pra realidade onde uma aula indesejada me aguardava. Mas antes disso, pagar o suco de maracujá sem leite era no mínimo um ato de cidadania... E fui pro caixa. Ao abrir a carteira, estava ele, a minha pessoa em uma foto 3x4 que me acompanha desde muito tempo. Sempre presente.

- Eita lezado que eu amo!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

“Vou chorar sem medo, vou lembrar do tempo de onde eu via o mundo azul...”

Tenho medo de balões! Bem, não exatamente medo, meeedo! Apenas não gosto daquelas bexigas cheias de ar, todas cheias de pose, olhando para mim com cara de inocência, uma falsa pureza. Mais uma coisa de santo mesmo, elas me provocam sustos que prefiro evitar.

Confesso ter medo de outras tantas coisas, como filmes de terror e gatos. Mas na verdade, esses são apenas meus temores de criança que acabaram me acompanhando. É como o bicho papão que vira e mexe ainda teima em visitar meu guarda-roupa. Mas meus medos de “gente grande” já estão se apresentando e assustam até mesmo o inconveniente visitante do meu armário.

Diversas vezes fui acusada de medrosa. Tantas vezes me disseram que eu deveria ser mais corajosa, que eu temia tudo e que isso não podia ser bom pra mim. Tantas pessoas, tantos comentários, tantos temores.

Devo confessar que tudo isso me irrita(va) bastante, afinal, são meus medos e todos têm medos. Concordo que balão é meio incomum, mas me diz se é ou não é uma coisinha irritante?! O fato é que esbravejava que eu tinha o direito de temer o que eu bem quisesse e ponto.

No entanto, descobri recentemente que mais do que tudo isso, tenho medo de perder, tenho medo de perder pessoas. Tenho medo de despedidas, principalmente as que sei que serão definitivas.

Descoberto isso, passei a perceber que temer tudo não pode mesmo ser bom. Não pode ser bom temer uma última despedida, uma lágrima sincera e uma dor compartilhada. Visto dessa maneira, parece até ser mais fácil dizer adeus a alguém querido, quem vai deixar uma lacuna enorme.

Mas dizem por aí que teoria é uma coisa e prática é outra completamente diferente e distante. Portante, ainda não passo de 50kg de muito medo, então fico aqui, relembrando bons momentos, deixando escorrer vez ou outra uma lágrimazinha solitária e me acusando incansavelmente de medrosa!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O que me toca


Era só eu e minha irmã, andando sorridentes pelo aeroporto. Eu, como sempre, brincando com ela. Ela, pra variar, dizendo que eu era estranha.

Não sou estranha, é o que sempre digo a ela. Abracei-a, porque sentia que isso era mesmo necessário.


- Sabia que você vai sentir falta de mim? Com certeza, você vai sentir muita falta de mim quando eu for embora.

- E pra onde você vai, sua doida?

- Eu vou pro mundo. O mundo me aguarda. E você vai sentir falta, muita falta de mim.


O olhar dela pra mim fez com que minhas palavras tomassem uma força ainda maior. Era como um prenúncio. Decidi enfatizar, só pra ter certeza que Deus tinha escutado o recado direitinho.


- Vou pro mundo, querida. – Espontaneamente, abri os braços e olhei pro alto. – O mundo me aguarda.


Foi estranho fazer tudo isso e tentar imaginar depois o que as pessoas que passavam por perto concluíram ao me verem naquele estado que variava entre um transe e uma súplica. Mas é isso que quero. Quero ter coragem de fazer tudo isso. Nesse mundão de Deus, há alguém que eu admiro profundamente. É nela que penso quando tenho que ter coragem pra fazer alguma coisa.

Quero ter coragem de terminar o meu curso de Jornalismo, dedicando a ele o mesmo sonho que devotei quando marquei as bolinhas na inscrição do vestibular. Quero continuar acreditando que posso ser uma comunicadora e ser fiel aos meus princípios. Quero me especializar, morar fora, me especializar de novo, conhecer o novo e enfrentar tudo que me assusta durante meu sono.

Na verdade, quero até um pouco de medo, de frio na barriga. Aquele que faz eu me embrulhar da cabeça aos pés, pedindo baixinho por proteção e juízo.

Amo tanta coisa aqui, amo tanta gente. Mas quero ter força pra ir embora e saber que quando eu retornar, bem realizada, irá ter restado alguns poucos, os melhores com certeza.

Eles irão me esperar no aeroporto, todos muito felizes pelo meu breve retorno. E eu estarei igualmente alegre por vê-los. Minha irmã, com a voz ralinha, vai dizer que eu tinha razão quando dizia que ela sentiria mesmo minha falta. Meus sobrinhos vão me abraçar, eles também irão pensar em mim quando precisarem de força. Mas no final do feriado, vou novamente embora, pro mundo de novo. E aí passaremos alguns longos meses sem nos vermos novamente, matando a saudade que tortura apenas pela internet e telefone.

Vou passar o meu dia na redação de um jornal. Vou pra rua, narrar o que me toca. No fim do dia, cansada, vou pra casa, sozinha talvez, mas muito satisfeita. Realizada comigo mesma.

É isso que eu quero. Quero ter coragem pra enfrentar o que transpor meu caminho.

Por um sonho.

Pelo meu.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

E no consultório médico...


Eu precisava de respostas rápidas, quando você quer respostas rápidas é óbvio que você vai direto ao ponto. Você quer ser jornalista? Por quê? Sim, eu queria e o porquê era o mais evidente possível, eu gosto de escrever, ué. Gostar de fazer curativos nas bonecas, não te faz médico ou enfermeiro, ter como brincadeira favorita montar castelo de lego, não te faz engenheiro e ter como hobby escrever no diário, não te faz jornalista. Concorda? Escrever era o que eu gostava, mas até que ponto?


Quando eu ia ao médico, recebia várias respostas, até mesmo porque minha mãe sempre perguntava muito, sempre ficava querendo entender isso e aquilo, só para (em seguida) consultar gratuitamente as vizinhas e colegas de trabalho e ainda utilizando termos técnicos (é mole?). Entretanto, eu nunca recebi, nem com as perguntas descabidas da mamãe, uma resposta para uma pergunta que eu não fiz, e aquela vez foi assim. Justamente assim.


Fui à dermatologista e a doença da vez não havia sido detectada a olhos nus, então, partimos para uma biopsia. Ela me partiu e eu como boa paciente, apenas observei tudo, até mais do que deveria, inclusive. Foi então que ela se aproximou com seringas e com o rosto sendo invadido por uma alegria maligna: - Duas furadinhas, tá? A sensação de um furo não é legal, e acho que meu sinal de positivo, com o dedo meio murcho, representava nitidamente isso. Tava tranquila, porque eu tinha plena certeza que não ia morrer por causa de ‘”duas furadinhas”, mas admito que eu não tava nada confortável em saber que um pedaço fino de metal ia adentrar minha pele. Duas vezes, ainda por cima.


Sorte que eu só senti a primeira aplicação, tava tão nervosa que nem me atentei para o detalhe de que uma ia adormecer, quando a outra fosse enfiada. Anestesia devidamente aplicada, fomos para a parte 2, que já começava com um bisturi e um saquinho para guardar o pedacinho de tecido que ia sair de mim. Nessa hora sim, eu dei três pulos e quatro cambalhotas pra trás. Um bisturi afiadíssimo brilhando nas minhas fuças e aquela médica perversa, fazendo pura questão de me aterrorizar. Eu via o sangue no pedaço de gaze, mas não sentia dor alguma. Apenas a sensação de ser um bife no prato de alguém.


Aquele bisturi escavava minha pele e eu me contorcia, coisa mais estranha é doer sem dor. Sempre que eu sinto dor, minha primeira reação é gritar ou xingar os mil trezentos e cinquenta palavrões em língua portuguesa que eu sei, a minha segunda reação é distrair o corpo, fazendo-o acreditar que não existe dor alguma. Dessa vez, de fato, não existia dor. Então eu fiz o processo inverso, quer dizer, meu corpo fez o processo inverso. Ele entendeu tudo errado e sentia dor, muita dor. Sem lugar especifico, doía tudo.


A médica, a quem eu me refiro como malvada, me constrangia com aquela cara de ironia. E por vezes dizendo: - “Eu sei que não tá doendo, se acalma”. Ah tá, eu também sabia que não tava doendo, porém meu corpo não sabia. Tava tudo na maior complicação, eu pensava uma coisa, meu corpo pensava outra. Nesse clima de total incoerência, teve início o nível 3, e esse era o da reparação do rombo causado. Ponto após ponto. A cabeça e o corpo já voltavam a trabalhar sincronizados, os braços, as pernas, o pescoço, tudo se descontraindo. Até ensaiei alguns sorrisinhos amigáveis.


Nesse momento o pensamento alçou voo e pousou justamente na cabeça do inimigo, digo: da médica. O que ela estaria pensando sobre mim? Isso iria depender da criatividade dela, mas se ela fosse racional ia entender minhas fragilidades. Fiz inúmeras suposições, mas não confirmei nenhuma delas, infelizmente. A senhora se deteve a um: - “Ela é a caçula?” Se dirigindo a minha mãe. Minha mãe confirmou, não sem antes contar toda a problematização que levava ao meu nascimento, e elas sorriram juntas.


Eu que entrei naquela sala com o intuito de averiguar todos os pontos positivos de ser uma médica. Obtive uma única resposta: A coisa mais legal de ser médica devia ser escrever sobre ser médica. Imaginem aí, vários medrosos passando pelas minhas mãos, várias caras horrorizadas. Várias situações engraçadas e no meu bloquinho... Tudo isso anotadinho. Ia ter história que não se acaba mais.


A coisa mais legal de ser médica não era ser médica e ganhar três milhões para curar as pessoas, era, justamente, escrever sobre curar pessoas, e se viessem de quebra três milhões, eu juro que eu não ia reclamar. Nunca acreditei que as pessoas nascessem predestinadas a algo. Sobretudo, nunca acreditei que eu fosse encontrar daquela maneira a resposta que eu tanto buscava. Não é sempre que você entra em um consultório médico e além de sair de lá com um diagnóstico, sai com um teste vocacional grátis.


Não era sempre, porque aquele era um dia especial. Foi o dia em que eu parei de lutar contra meus instintos. Eu andava procurando resposta para uma coisa que já tinha resposta há muito. Você quer ser jornalista? Por quê? Sim, eu queria e o porquê era o mais evidente possível, eu gosto de escrever, ué. Embora gostar de escrever não faça ninguém jornalista, não gostar de qualquer outra coisa que não seja escrever, faz um alguém apaixonado. Antes de qualquer coisa, sou uma apaixonada, cega como todas as outras. Tanto que eu não me disponho a enxergar tantas intempéries nesse caminho que escolhi.


Aliás, caminho que eu escolhi ou caminho que me escolheu? Ahh, não importa essa de quem paquerou primeiro com quem. Estou vivendo um caso de amor e aposto que sai casamento. Não se preocupem, deixem os endereços e eu mando convites para todos vocês. E a madrinha? Sabe a madrinha? Será a Dra. Sheila, a sanguinária. Hehe (L)

sábado, 2 de maio de 2009

Strip-Tease


Nas minhas andanças desgovernadas por esse marzão da internet, achei um texto bem bacana. Por uma identificação pessoal com a temática, decidi colocá-lo aqui. A crônica pertence a Martha Medeiros, colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, Rio de Janeiro.

Strip-Tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

sábado, 25 de abril de 2009

Senta que lá vem história


Um dia cheguei lá cabisbaixa, confesso.

Ela iniciou o diálogo com a típica frase:

- Oi! Como foi sua semana?

Por mais que não passasse de um clichê infeliz, a oração quase sempre abria portas pra minha tagarelice infinita. Era como se ela falasse subliminarmente “Bora, desembucha logo.”

Dessa vez foi diferente, mais parecia que eu vinha carregando todas as minhas preocupações nas costas, nunca me senti mais burro de carga quanto nesse dia. Olhei pro divã e, pela primeira vez, me pareceu sedutoramente confortável.

- Posso? – E indiquei com a cabeça aquela espécie de sofá que eu realmente gostaria de ter em casa.

- À vontade. – Ela me respondeu, sorrindo, enquanto virava a poltrona para ficar de frente pra mim e de lado onde costumada ser a minha poltrona-confessionário.

Deitei e coloquei as minhas preocupações do lado do sofá, já estavam começando a doer as minhas costas. Com os olhos diretamente direcionados à luz irritante da lâmpada demasiadamente forte, estreitei os olhos quase que como uma forma de defesa pessoal. Estreitei-os completamente, mas a luz era abusiva por demais. Aquilo estava verdadeiramente me irritando. Mesmo de olhos completamente fechados e ainda assim parecia invadir meus pensamentos. Não queria ninguém xeretando minha mente desordenada, mesmo que fosse um brilhinho fluorescente.

- Ahm... A claridade tá me incomodando. – Falei, numa voz arrastada, olhando pra ela só com um olho semi-aberto. O outro estava fechado. Se a luz ia tentar desvendar minhas lembranças, eu que não ia facilitar pra ela. Nem pensar!

- Tudo bem, posso resolver isso.

Se levantou e caminhou até o interruptor, apagando a talzinha que tava assombrando minhas ideias e apenas ligou uma de canto, com uma intensidade bem fraquinha. Comparada à outra, essa parecia apenas uma testemunha ocular das minhas confissões.

Tudo bem, agora o ambiente estava mais propicio pra mim. Voltei a fechar os olhos e cruzei as mãos sobre meu peito. A posição me incomodou, me lembrou um defunto, por isso descruzei os dedos rapidamente e apoiei as mão ao lado do corpo. Pronto, assim sim.

- E então, como foi a semana? – Ela voltou a perguntar, parecia bem curiosa. Curiosa demais, eu diria.

E eu comecei a falar. Falava meio entediada, não tinha ocorrido nada de muito interessante durante a minha semana, pelo menos não durante a semana a que ela se referia. Os desassossegos que se agitavam dentro de uma sacola, ao lado do meu confortável divã, eram mais antigos do que isso. Beeem mais antigos.

- Jéssica, como você o conheceu?

Sim, agora sim ela havia acertado a pergunta. Era essa a pergunta que desencadeava toda a minha tagarelice. Respirei bem fundo, como quem tomava fôlego pra uma maratona. E então imaginei o início, de novo. E vou dizer, foi tão bom lembrar do princípio e contar pra alguém essa história, com um orgulho tremendo de ter sido a protagonista.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Se joga Ninão! A Jéssiquinha aqui te apara!



Nos conhecemos no segundo ano do ensino médio e somos amigas desde então...

Essa poderia ser o início de uma história comum a muita gente, não fosse o fato de que o universo, de alguma forma ou de outra, pareceu conspirar desde o início e traçou todo um caminho para que nos tornássemos as grandes amigas que hoje somos. E não se trata tão somente pelo fato de que nascemos no mesmo dia e na mesma maternidade (e tem até aquelo nosso amigo poeta que afirmou que nosso destino foi traçado na maternidade), mas principalmente porque se tratar da pessoa mais parecida comigo que já tive notícia. Chego a desconfiar que Deus nos fez a partir da mesma forma...

Entre as inúmeras semelhanças que nos unem, temos, como ela mesma diz, um dia que é só nosso. No dia 25 de abril, conservamos a tradição de fazer alguma coisa juntas. Esse ano, além de irmos a um show, decidi compartilhar palavras dela.


Quando a idéia de falar sobre a Nina Nunes me passou pela cabeça, saí imediatamente em busca de um papelzinho que ela me entregou há algum tempo. Sabia que estava guardado, seria incapaz de jogar fora. Achei no primeiro lugar que procurei, no meu caderno dos tempos da escola. E lá estava... Uma folha de papel, com marcas do tempo, tantas vezes dobradas que já rasgava nas dobras. Na frente, em letras garrafais, estava escrito JESGA (Um apelido que ela me deu e que só usava quando queria pedir alguma coisa, ou pra me irritar mesmo).

Pra falar dela, precisava reler tudo aquilo que ela me escreveu. Uma carta que nem tinha bem uma estética atrativa. Mas eram as escritas tortas a lápis que verdadeiramente me encantavam. E então a mesma emoção, que anos atrás me fez chorar, novamente me atingiu.


Crescida, madura, determinada e CORAJOSA! Que me ensina um tantão de coisas, que me ajuda e me pega e me deixa em casa, hehehe ;D

A pessoa que me inspira a ser melhor, que eu sei que também ta aprendendo comigo! Afinal, somos mãe e filha, com a mesma idade é verdade, mas com as mesmas vontades, com os mesmos pensamentos e foco!


Foi assim que ela me definiu. Todo esse tempo e eu sempre apontei pra ela ao pensar em todos esses adjetivos. E nem imaginava que eu ajudava tanto ela, afinal era quase sempre eu quem saia da sala pra chorar baixinho no banheiro. E hoje, dois anos depois dela ter escrito essas coisinhas, quando terminei de ler, percebi que tinha decorado as melhores partes. Foi engraçado sorrir pro tempo e sentir um friozinho na barriga por isso.


E olha como o destino é generoso conosco. Por obra Dele, estudamos na mesma universidade, o mesmo sonhado curso de Jornalismo. É verdade que ela me deu uma rasteira e decidiu estudar um período na minha frente, mas ainda assim conservamos o velho e bom hábito de confidentes, cúmplices de crimes mal sucedidos. Ainda compartilhamos o desejo de viajarmos juntas pra Salvador e fazer um estrago bem grande na mídia nacional.

E quer saber, seria bem injusto se a gente não se conhecesse. Seria como se eu perdesse parte dos melhores momentos da minha vida. E talvez, os piores momentos fossem ainda mais dolorosos sem ela. Com o tempo, com os anos de convivência e de pensamentos em comum, concluí que vibramos mesmo é em outra frequência.


- Pra todo o sempre, o nosso 25 de abril.

Feliz aniversário, Nina Nunes Rodrigues Cunha!

terça-feira, 21 de abril de 2009

A minha escolha é:


O professor de Filosofia tentava explicar uma coisa sobre relatividade, e isso era no ano de 2005. “Dor de cotovelo dói em qualquer canto do mundo, no bairro, no subúrbio... No entanto, uma coisa é ter dor de cotovelo e chorar no fundo de uma rede, outra coisa é ter dor de cotovelo e chorar em uma cama estilo colonial, com lençol de mil fios”. Eu não concordo com esse discurso, se você chora e esse choro faz o coração bater doído e parece que cada lágrima pesa 100 toneladas. Vai doer igualzinho, irmão.


Minha frase é: “Uma coisa é ter dor de cotovelo e ficar em casa, roendo as unhas, de olho no telefone e na panela de brigadeiro borbulhando no fogão, outra coisa é ter dor de cotovelo e sair com as amigas, digo: as melhores” A diferença não é o lugar, a condição financeira, ou com o que você se embrulha. O que torna essa situação relativa é o que você faz para melhorar. Eu tinha um universo de possibilidades, e isso não é privilégio só meu. Todo mundo tem. Embora, dentre todas essas possibilidades, não contenha simplesmente a opção: Não sentir dor e ponto. Existe “amenizar a dor e ponto”. Claro, que isso é bastante pessoal. Tem gente que ameniza a dor indo passear com o cachorro, pintando telas, fazendo compras, estudando (AI eu pergunto: Porque eu não nasci nessa classe, Senhor?).


A minha forma de amenizar dor é ficar em boa companhia, e não importa tanto o lugar. O que importa são as carinhas marcadas que eu vou olhar, quando eu fizer mentalmente o apelo: Divirtam-me! Ontem, a noite pedia por diversão, éramos, inicialmente, cinco no mesmo barco, todas semi naufragadas na praia do amor. Depois éramos três, o grupo seleto se reconstituindo, baseado no que já foi um dia.


As coisas estavam desconexas demais, já não tínhamos mais a mesma mentalidade de alguns anos (quando se consolidaram as saídas milagrosas), nem a mesma sintonia (quando toda hora nos comunicávamos sobre tudo). Mas tínhamos, sobretudo, a empolgação do reencontro, a expectativa de observar as mesmas caras, com os mesmos apelos. Quando eu falei que não importava o lugar, não importava de verdade. Sou um peixinho fora d’água em certos ambientes, e estava fora do meu aquário, naquele. Era um peixe que tinha sede de águas oceânicas. Em dia de chuva, peixinho que sou, só encontrei lama. Tava na lama com as melhores, tava fazendo daquilo meu oceano.


E quando um peixe escuta borbulhas de amor, principalmente o trecho que diz: “canta coração, que esta alma necessita de ilusão” tudo desanda, literalmente. E desandou. Ai consiste tudo que merece ser esquecido. Tudo que eu espero que vire gargalhada daqui a um tempo. Porque sempre vira.


Soluço com notícia desastrosa (de caráter inverossímil) devia virar susto e xô soluço, respectivamente. Mas tou falando da Jéssica Monteiro, da pessoa que libera mais água do que as chuvas do mês de Março. E principalmente, da pessoa que chora e sorri, simultaneamente. “Sorria, Jessiquinha, mas não tanto as pessoas vão perceber”. “Nina, sua mentirosa, eu poderia afundar todo mundo aqui”. Era por uma boa causa. Eu sou peixe, preciso de água.


Na verdade, tudo que eu precisava, eu consegui. Reencontrar naquelas circunstâncias as duas pessoas com quem eu mais amenizei dores do coração. As dores, as dores... Continuam em seu lugarzinho cativo latejando de fininho, mas eu consegui por alguns instantes esquecer tudo aquilo. Consegui compartilhar um momento de amor. E não dizem que pra superar um amor, só outro? Tá que não é do mesmo departamento, né? Mas deu pra aliviar bacana.


Eu poderia ter ficado em casa e jogado Donkey Kong 2. E tudo ia permanecer na mesma. Sem brigas da mamãe, sem dores de cabeça, sem sede excessiva. Entretanto, eu fiz uma escolha, do universo de escolhas que me assistia, com toda relatividade que sempre envolve.


Se eu tivesse que declarar uma lista de lucros e dividendos sobre a noite passada, ela não teria fim. Mas como o sono bateu, e minha cabeça ainda não se recuperou de tanta ”aceleração de pensamento”. Escrevo depois sobre o risco de escutar Fagner em momentos delicados e como é engraçado ver a Jéssica sorrindo pra linha do horizonte e a Raissa fazendo um escudo humano pra estacionar.


Uma definição do relativo momento: “Tenho um coração, dividido entre a esperança e a razão. Tenho um coração, bem melhor que não tivera...”
- Vá Fagner, você que ferrar minha vida, malandrinho...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Regras aritméticas


Sempre gostei mais de números pares. Não sei ao certo o porquê dessa inimizade com os números impares, mas talvez eu simplesmente fique com pena do solitário que fica sem par. O fato é que houve tempos em que quase tudo funcionava a partir do número três.

Isso, vez ou outra me intrigava, porque apesar da minha aversão injustificada aos pobrezinhos dos números ímpares, não sobrava ninguém nessa conta. Saíamos em três, confidenciávamos em trio. A falta em uma, era perfeitamente compensada pelo excesso nas outras duas. Era quase sempre assim, o encaixe funcionava sempre muito bem assim... O hábito era tão forte, que se faltava uma, as pessoas já perguntavam o que tinha acontecido com a ausente.

Fazíamos planos pro futuro. Acreditávamos que éramos firmes e fortes. E quem sabe as circunstâncias insistiam em confirmar que essa máxima fosse de fato verdadeira. Ainda sou capaz de me recordar com a perfeição da ocasião, os momentos que batizávamos com várias gargalhadas de Clube da Luluzinha.

Como e onde não sei dizer ao certo, mas os caminhos se separaram. O porquê disso também fica igualmente difícil de explicar. O encaixe parecia simplesmente não mais funcionar. A falta em uma e o excesso nas outras tornou-se um completo desequilíbrio, uma verdadeira bagunça de opiniões. As coisas estavam uma desordem.

Tentamos, duas, três ou quatro vezes. Tentamos inúmeras vezes que as coisas voltassem ao normal. Quando desisti de tentar, passei a me questionar a respeito desse tal normal. E voltei a culpar os números ímpares.

Com o tempo, o que antes era um trio, passou a ser visto como uma simples dupla. Duas que se decifravam, que, de certa forma, não precisavam compensar pela falta da outra. E mesmo em dupla, seguindo à risca a minha regra dos pares e ímpares, elas estavam desestruturadas demais pra funcionar tão espontaneamente como a minha regra aritmética dizia. Quase sempre faltava aquela outra parte, aquela que era mesmo uma incógnita, que era cheia de alegria, mas que se deixava abalar por tão pouco.

Não era justo, elas sabiam que o Clube da Luluzinha não estava completo só com duas. Só que parecia que nenhuma se aventurava a tomar a iniciativa e dizer o quanto sentia pela ausência. E cada uma continuava em seu cantinho, fingindo que não era sua culpa e que nada podia fazer para mudar aquilo que estava feito.

Mas alguém tomou coragem, alguém saiu da posição de defesa e decidiu que valia a pena. Estou crente que as coisas não serão nunca mais como antes. Mas podem ser diferentemente boas. Ou quem sabe, diferentemente melhores. Podemos ao menos tentar, mais uma vez. Nos devemos essas tentativas.

Uma noite não muda tudo, é certo. Mas que maravilha que foi ser um trio de novo. Ser correspondia por uma olhar e saber que algumas regras têm lá suas exceções.