segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Oito Anos


Uma visita inesperada bateu à minha porta, certa vez.
Não, minto. A justa palavra anda longe de ser ‘inesperada’. A sua presença de espírito e o seu humor contagiante não combinam nenhum pouco com esse adjetivo. Reescrevo, então, a minha frase: Uma visita surpreendentemente programada bateu à minha porta, certa vez.

Desde muito tempo venho definindo-a com uma das minhas mais antigas e fiéis amizade e isso é um troféu que pouca gente carrega. Como ela mesma fez questão de enfatizar nesse encontro, são oito anos de estrada. A cortesia inicial então deu lugar à um tom de ameaça.

- Não é justo o que você está fazendo. Somos diferentes demais pra alguém prever que um dia seriamos tão amigas. Mas somos e você está me abandonando. Você está abandonando tanta gente.

A força das palavras me pegaram em cheio. Enfim, alguém tinha percebido que eu andava fugindo. A pergunta a seguir era: de que eu fugia? De tanta coisa, de tanta gente. Em essência, eu fugia de uma eu que não queria mais encontrar. Temia dá de frente com ela e perder o controle. Sim, porque agora eu detinha, novamente, o controle da situação e isso me assegurava um orgulho próprio ainda maior. Mas não era justo esconder isso dela. Depois de tanto tempo correndo atrás de todo mundo, finalmente alguém havia voltado por mim. Respirei fundo e proclamei uma série de justificativas que eu havia ensaiado cuidadosamente, na esperança quase moribunda de que algum dia alguém retornasse. Ninguém nunca tinha escutado essas palavras, minha amizade de oito anos adquiriu a informação em primeira mão.
Num suspiro profundo o suficiente pra que ela pudesse processar a informação, ela sorriu e disse que me entendia. E isso me confortou tanto. O que em alguns momentos eu mesma tachei de covardia alcançou um contexto bem melhor. Nada estava abalado. Ela só me queria de volta, presente. E eu à prometi que estaria novamente presente para ela. E então colocamos o papo em dia. Devoramos uns sanduíches enquanto narrávamos as últimas revira-voltas de nossas próprias vidas.