segunda-feira, 11 de maio de 2009

O que me toca


Era só eu e minha irmã, andando sorridentes pelo aeroporto. Eu, como sempre, brincando com ela. Ela, pra variar, dizendo que eu era estranha.

Não sou estranha, é o que sempre digo a ela. Abracei-a, porque sentia que isso era mesmo necessário.


- Sabia que você vai sentir falta de mim? Com certeza, você vai sentir muita falta de mim quando eu for embora.

- E pra onde você vai, sua doida?

- Eu vou pro mundo. O mundo me aguarda. E você vai sentir falta, muita falta de mim.


O olhar dela pra mim fez com que minhas palavras tomassem uma força ainda maior. Era como um prenúncio. Decidi enfatizar, só pra ter certeza que Deus tinha escutado o recado direitinho.


- Vou pro mundo, querida. – Espontaneamente, abri os braços e olhei pro alto. – O mundo me aguarda.


Foi estranho fazer tudo isso e tentar imaginar depois o que as pessoas que passavam por perto concluíram ao me verem naquele estado que variava entre um transe e uma súplica. Mas é isso que quero. Quero ter coragem de fazer tudo isso. Nesse mundão de Deus, há alguém que eu admiro profundamente. É nela que penso quando tenho que ter coragem pra fazer alguma coisa.

Quero ter coragem de terminar o meu curso de Jornalismo, dedicando a ele o mesmo sonho que devotei quando marquei as bolinhas na inscrição do vestibular. Quero continuar acreditando que posso ser uma comunicadora e ser fiel aos meus princípios. Quero me especializar, morar fora, me especializar de novo, conhecer o novo e enfrentar tudo que me assusta durante meu sono.

Na verdade, quero até um pouco de medo, de frio na barriga. Aquele que faz eu me embrulhar da cabeça aos pés, pedindo baixinho por proteção e juízo.

Amo tanta coisa aqui, amo tanta gente. Mas quero ter força pra ir embora e saber que quando eu retornar, bem realizada, irá ter restado alguns poucos, os melhores com certeza.

Eles irão me esperar no aeroporto, todos muito felizes pelo meu breve retorno. E eu estarei igualmente alegre por vê-los. Minha irmã, com a voz ralinha, vai dizer que eu tinha razão quando dizia que ela sentiria mesmo minha falta. Meus sobrinhos vão me abraçar, eles também irão pensar em mim quando precisarem de força. Mas no final do feriado, vou novamente embora, pro mundo de novo. E aí passaremos alguns longos meses sem nos vermos novamente, matando a saudade que tortura apenas pela internet e telefone.

Vou passar o meu dia na redação de um jornal. Vou pra rua, narrar o que me toca. No fim do dia, cansada, vou pra casa, sozinha talvez, mas muito satisfeita. Realizada comigo mesma.

É isso que eu quero. Quero ter coragem pra enfrentar o que transpor meu caminho.

Por um sonho.

Pelo meu.

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