segunda-feira, 20 de abril de 2009

Regras aritméticas


Sempre gostei mais de números pares. Não sei ao certo o porquê dessa inimizade com os números impares, mas talvez eu simplesmente fique com pena do solitário que fica sem par. O fato é que houve tempos em que quase tudo funcionava a partir do número três.

Isso, vez ou outra me intrigava, porque apesar da minha aversão injustificada aos pobrezinhos dos números ímpares, não sobrava ninguém nessa conta. Saíamos em três, confidenciávamos em trio. A falta em uma, era perfeitamente compensada pelo excesso nas outras duas. Era quase sempre assim, o encaixe funcionava sempre muito bem assim... O hábito era tão forte, que se faltava uma, as pessoas já perguntavam o que tinha acontecido com a ausente.

Fazíamos planos pro futuro. Acreditávamos que éramos firmes e fortes. E quem sabe as circunstâncias insistiam em confirmar que essa máxima fosse de fato verdadeira. Ainda sou capaz de me recordar com a perfeição da ocasião, os momentos que batizávamos com várias gargalhadas de Clube da Luluzinha.

Como e onde não sei dizer ao certo, mas os caminhos se separaram. O porquê disso também fica igualmente difícil de explicar. O encaixe parecia simplesmente não mais funcionar. A falta em uma e o excesso nas outras tornou-se um completo desequilíbrio, uma verdadeira bagunça de opiniões. As coisas estavam uma desordem.

Tentamos, duas, três ou quatro vezes. Tentamos inúmeras vezes que as coisas voltassem ao normal. Quando desisti de tentar, passei a me questionar a respeito desse tal normal. E voltei a culpar os números ímpares.

Com o tempo, o que antes era um trio, passou a ser visto como uma simples dupla. Duas que se decifravam, que, de certa forma, não precisavam compensar pela falta da outra. E mesmo em dupla, seguindo à risca a minha regra dos pares e ímpares, elas estavam desestruturadas demais pra funcionar tão espontaneamente como a minha regra aritmética dizia. Quase sempre faltava aquela outra parte, aquela que era mesmo uma incógnita, que era cheia de alegria, mas que se deixava abalar por tão pouco.

Não era justo, elas sabiam que o Clube da Luluzinha não estava completo só com duas. Só que parecia que nenhuma se aventurava a tomar a iniciativa e dizer o quanto sentia pela ausência. E cada uma continuava em seu cantinho, fingindo que não era sua culpa e que nada podia fazer para mudar aquilo que estava feito.

Mas alguém tomou coragem, alguém saiu da posição de defesa e decidiu que valia a pena. Estou crente que as coisas não serão nunca mais como antes. Mas podem ser diferentemente boas. Ou quem sabe, diferentemente melhores. Podemos ao menos tentar, mais uma vez. Nos devemos essas tentativas.

Uma noite não muda tudo, é certo. Mas que maravilha que foi ser um trio de novo. Ser correspondia por uma olhar e saber que algumas regras têm lá suas exceções.

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