sábado, 25 de abril de 2009

Senta que lá vem história


Um dia cheguei lá cabisbaixa, confesso.

Ela iniciou o diálogo com a típica frase:

- Oi! Como foi sua semana?

Por mais que não passasse de um clichê infeliz, a oração quase sempre abria portas pra minha tagarelice infinita. Era como se ela falasse subliminarmente “Bora, desembucha logo.”

Dessa vez foi diferente, mais parecia que eu vinha carregando todas as minhas preocupações nas costas, nunca me senti mais burro de carga quanto nesse dia. Olhei pro divã e, pela primeira vez, me pareceu sedutoramente confortável.

- Posso? – E indiquei com a cabeça aquela espécie de sofá que eu realmente gostaria de ter em casa.

- À vontade. – Ela me respondeu, sorrindo, enquanto virava a poltrona para ficar de frente pra mim e de lado onde costumada ser a minha poltrona-confessionário.

Deitei e coloquei as minhas preocupações do lado do sofá, já estavam começando a doer as minhas costas. Com os olhos diretamente direcionados à luz irritante da lâmpada demasiadamente forte, estreitei os olhos quase que como uma forma de defesa pessoal. Estreitei-os completamente, mas a luz era abusiva por demais. Aquilo estava verdadeiramente me irritando. Mesmo de olhos completamente fechados e ainda assim parecia invadir meus pensamentos. Não queria ninguém xeretando minha mente desordenada, mesmo que fosse um brilhinho fluorescente.

- Ahm... A claridade tá me incomodando. – Falei, numa voz arrastada, olhando pra ela só com um olho semi-aberto. O outro estava fechado. Se a luz ia tentar desvendar minhas lembranças, eu que não ia facilitar pra ela. Nem pensar!

- Tudo bem, posso resolver isso.

Se levantou e caminhou até o interruptor, apagando a talzinha que tava assombrando minhas ideias e apenas ligou uma de canto, com uma intensidade bem fraquinha. Comparada à outra, essa parecia apenas uma testemunha ocular das minhas confissões.

Tudo bem, agora o ambiente estava mais propicio pra mim. Voltei a fechar os olhos e cruzei as mãos sobre meu peito. A posição me incomodou, me lembrou um defunto, por isso descruzei os dedos rapidamente e apoiei as mão ao lado do corpo. Pronto, assim sim.

- E então, como foi a semana? – Ela voltou a perguntar, parecia bem curiosa. Curiosa demais, eu diria.

E eu comecei a falar. Falava meio entediada, não tinha ocorrido nada de muito interessante durante a minha semana, pelo menos não durante a semana a que ela se referia. Os desassossegos que se agitavam dentro de uma sacola, ao lado do meu confortável divã, eram mais antigos do que isso. Beeem mais antigos.

- Jéssica, como você o conheceu?

Sim, agora sim ela havia acertado a pergunta. Era essa a pergunta que desencadeava toda a minha tagarelice. Respirei bem fundo, como quem tomava fôlego pra uma maratona. E então imaginei o início, de novo. E vou dizer, foi tão bom lembrar do princípio e contar pra alguém essa história, com um orgulho tremendo de ter sido a protagonista.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Se joga Ninão! A Jéssiquinha aqui te apara!



Nos conhecemos no segundo ano do ensino médio e somos amigas desde então...

Essa poderia ser o início de uma história comum a muita gente, não fosse o fato de que o universo, de alguma forma ou de outra, pareceu conspirar desde o início e traçou todo um caminho para que nos tornássemos as grandes amigas que hoje somos. E não se trata tão somente pelo fato de que nascemos no mesmo dia e na mesma maternidade (e tem até aquelo nosso amigo poeta que afirmou que nosso destino foi traçado na maternidade), mas principalmente porque se tratar da pessoa mais parecida comigo que já tive notícia. Chego a desconfiar que Deus nos fez a partir da mesma forma...

Entre as inúmeras semelhanças que nos unem, temos, como ela mesma diz, um dia que é só nosso. No dia 25 de abril, conservamos a tradição de fazer alguma coisa juntas. Esse ano, além de irmos a um show, decidi compartilhar palavras dela.


Quando a idéia de falar sobre a Nina Nunes me passou pela cabeça, saí imediatamente em busca de um papelzinho que ela me entregou há algum tempo. Sabia que estava guardado, seria incapaz de jogar fora. Achei no primeiro lugar que procurei, no meu caderno dos tempos da escola. E lá estava... Uma folha de papel, com marcas do tempo, tantas vezes dobradas que já rasgava nas dobras. Na frente, em letras garrafais, estava escrito JESGA (Um apelido que ela me deu e que só usava quando queria pedir alguma coisa, ou pra me irritar mesmo).

Pra falar dela, precisava reler tudo aquilo que ela me escreveu. Uma carta que nem tinha bem uma estética atrativa. Mas eram as escritas tortas a lápis que verdadeiramente me encantavam. E então a mesma emoção, que anos atrás me fez chorar, novamente me atingiu.


Crescida, madura, determinada e CORAJOSA! Que me ensina um tantão de coisas, que me ajuda e me pega e me deixa em casa, hehehe ;D

A pessoa que me inspira a ser melhor, que eu sei que também ta aprendendo comigo! Afinal, somos mãe e filha, com a mesma idade é verdade, mas com as mesmas vontades, com os mesmos pensamentos e foco!


Foi assim que ela me definiu. Todo esse tempo e eu sempre apontei pra ela ao pensar em todos esses adjetivos. E nem imaginava que eu ajudava tanto ela, afinal era quase sempre eu quem saia da sala pra chorar baixinho no banheiro. E hoje, dois anos depois dela ter escrito essas coisinhas, quando terminei de ler, percebi que tinha decorado as melhores partes. Foi engraçado sorrir pro tempo e sentir um friozinho na barriga por isso.


E olha como o destino é generoso conosco. Por obra Dele, estudamos na mesma universidade, o mesmo sonhado curso de Jornalismo. É verdade que ela me deu uma rasteira e decidiu estudar um período na minha frente, mas ainda assim conservamos o velho e bom hábito de confidentes, cúmplices de crimes mal sucedidos. Ainda compartilhamos o desejo de viajarmos juntas pra Salvador e fazer um estrago bem grande na mídia nacional.

E quer saber, seria bem injusto se a gente não se conhecesse. Seria como se eu perdesse parte dos melhores momentos da minha vida. E talvez, os piores momentos fossem ainda mais dolorosos sem ela. Com o tempo, com os anos de convivência e de pensamentos em comum, concluí que vibramos mesmo é em outra frequência.


- Pra todo o sempre, o nosso 25 de abril.

Feliz aniversário, Nina Nunes Rodrigues Cunha!

terça-feira, 21 de abril de 2009

A minha escolha é:


O professor de Filosofia tentava explicar uma coisa sobre relatividade, e isso era no ano de 2005. “Dor de cotovelo dói em qualquer canto do mundo, no bairro, no subúrbio... No entanto, uma coisa é ter dor de cotovelo e chorar no fundo de uma rede, outra coisa é ter dor de cotovelo e chorar em uma cama estilo colonial, com lençol de mil fios”. Eu não concordo com esse discurso, se você chora e esse choro faz o coração bater doído e parece que cada lágrima pesa 100 toneladas. Vai doer igualzinho, irmão.


Minha frase é: “Uma coisa é ter dor de cotovelo e ficar em casa, roendo as unhas, de olho no telefone e na panela de brigadeiro borbulhando no fogão, outra coisa é ter dor de cotovelo e sair com as amigas, digo: as melhores” A diferença não é o lugar, a condição financeira, ou com o que você se embrulha. O que torna essa situação relativa é o que você faz para melhorar. Eu tinha um universo de possibilidades, e isso não é privilégio só meu. Todo mundo tem. Embora, dentre todas essas possibilidades, não contenha simplesmente a opção: Não sentir dor e ponto. Existe “amenizar a dor e ponto”. Claro, que isso é bastante pessoal. Tem gente que ameniza a dor indo passear com o cachorro, pintando telas, fazendo compras, estudando (AI eu pergunto: Porque eu não nasci nessa classe, Senhor?).


A minha forma de amenizar dor é ficar em boa companhia, e não importa tanto o lugar. O que importa são as carinhas marcadas que eu vou olhar, quando eu fizer mentalmente o apelo: Divirtam-me! Ontem, a noite pedia por diversão, éramos, inicialmente, cinco no mesmo barco, todas semi naufragadas na praia do amor. Depois éramos três, o grupo seleto se reconstituindo, baseado no que já foi um dia.


As coisas estavam desconexas demais, já não tínhamos mais a mesma mentalidade de alguns anos (quando se consolidaram as saídas milagrosas), nem a mesma sintonia (quando toda hora nos comunicávamos sobre tudo). Mas tínhamos, sobretudo, a empolgação do reencontro, a expectativa de observar as mesmas caras, com os mesmos apelos. Quando eu falei que não importava o lugar, não importava de verdade. Sou um peixinho fora d’água em certos ambientes, e estava fora do meu aquário, naquele. Era um peixe que tinha sede de águas oceânicas. Em dia de chuva, peixinho que sou, só encontrei lama. Tava na lama com as melhores, tava fazendo daquilo meu oceano.


E quando um peixe escuta borbulhas de amor, principalmente o trecho que diz: “canta coração, que esta alma necessita de ilusão” tudo desanda, literalmente. E desandou. Ai consiste tudo que merece ser esquecido. Tudo que eu espero que vire gargalhada daqui a um tempo. Porque sempre vira.


Soluço com notícia desastrosa (de caráter inverossímil) devia virar susto e xô soluço, respectivamente. Mas tou falando da Jéssica Monteiro, da pessoa que libera mais água do que as chuvas do mês de Março. E principalmente, da pessoa que chora e sorri, simultaneamente. “Sorria, Jessiquinha, mas não tanto as pessoas vão perceber”. “Nina, sua mentirosa, eu poderia afundar todo mundo aqui”. Era por uma boa causa. Eu sou peixe, preciso de água.


Na verdade, tudo que eu precisava, eu consegui. Reencontrar naquelas circunstâncias as duas pessoas com quem eu mais amenizei dores do coração. As dores, as dores... Continuam em seu lugarzinho cativo latejando de fininho, mas eu consegui por alguns instantes esquecer tudo aquilo. Consegui compartilhar um momento de amor. E não dizem que pra superar um amor, só outro? Tá que não é do mesmo departamento, né? Mas deu pra aliviar bacana.


Eu poderia ter ficado em casa e jogado Donkey Kong 2. E tudo ia permanecer na mesma. Sem brigas da mamãe, sem dores de cabeça, sem sede excessiva. Entretanto, eu fiz uma escolha, do universo de escolhas que me assistia, com toda relatividade que sempre envolve.


Se eu tivesse que declarar uma lista de lucros e dividendos sobre a noite passada, ela não teria fim. Mas como o sono bateu, e minha cabeça ainda não se recuperou de tanta ”aceleração de pensamento”. Escrevo depois sobre o risco de escutar Fagner em momentos delicados e como é engraçado ver a Jéssica sorrindo pra linha do horizonte e a Raissa fazendo um escudo humano pra estacionar.


Uma definição do relativo momento: “Tenho um coração, dividido entre a esperança e a razão. Tenho um coração, bem melhor que não tivera...”
- Vá Fagner, você que ferrar minha vida, malandrinho...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Regras aritméticas


Sempre gostei mais de números pares. Não sei ao certo o porquê dessa inimizade com os números impares, mas talvez eu simplesmente fique com pena do solitário que fica sem par. O fato é que houve tempos em que quase tudo funcionava a partir do número três.

Isso, vez ou outra me intrigava, porque apesar da minha aversão injustificada aos pobrezinhos dos números ímpares, não sobrava ninguém nessa conta. Saíamos em três, confidenciávamos em trio. A falta em uma, era perfeitamente compensada pelo excesso nas outras duas. Era quase sempre assim, o encaixe funcionava sempre muito bem assim... O hábito era tão forte, que se faltava uma, as pessoas já perguntavam o que tinha acontecido com a ausente.

Fazíamos planos pro futuro. Acreditávamos que éramos firmes e fortes. E quem sabe as circunstâncias insistiam em confirmar que essa máxima fosse de fato verdadeira. Ainda sou capaz de me recordar com a perfeição da ocasião, os momentos que batizávamos com várias gargalhadas de Clube da Luluzinha.

Como e onde não sei dizer ao certo, mas os caminhos se separaram. O porquê disso também fica igualmente difícil de explicar. O encaixe parecia simplesmente não mais funcionar. A falta em uma e o excesso nas outras tornou-se um completo desequilíbrio, uma verdadeira bagunça de opiniões. As coisas estavam uma desordem.

Tentamos, duas, três ou quatro vezes. Tentamos inúmeras vezes que as coisas voltassem ao normal. Quando desisti de tentar, passei a me questionar a respeito desse tal normal. E voltei a culpar os números ímpares.

Com o tempo, o que antes era um trio, passou a ser visto como uma simples dupla. Duas que se decifravam, que, de certa forma, não precisavam compensar pela falta da outra. E mesmo em dupla, seguindo à risca a minha regra dos pares e ímpares, elas estavam desestruturadas demais pra funcionar tão espontaneamente como a minha regra aritmética dizia. Quase sempre faltava aquela outra parte, aquela que era mesmo uma incógnita, que era cheia de alegria, mas que se deixava abalar por tão pouco.

Não era justo, elas sabiam que o Clube da Luluzinha não estava completo só com duas. Só que parecia que nenhuma se aventurava a tomar a iniciativa e dizer o quanto sentia pela ausência. E cada uma continuava em seu cantinho, fingindo que não era sua culpa e que nada podia fazer para mudar aquilo que estava feito.

Mas alguém tomou coragem, alguém saiu da posição de defesa e decidiu que valia a pena. Estou crente que as coisas não serão nunca mais como antes. Mas podem ser diferentemente boas. Ou quem sabe, diferentemente melhores. Podemos ao menos tentar, mais uma vez. Nos devemos essas tentativas.

Uma noite não muda tudo, é certo. Mas que maravilha que foi ser um trio de novo. Ser correspondia por uma olhar e saber que algumas regras têm lá suas exceções.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Meu rosto vermelho e molhado...


O tempo estava fechado, completamente nublado, tanto quanto meu humor. Parecia até uma piada, alguma espécie de humor negro, alguém lá em cima, responsável pela meteorologia, decidiu combinar o tempo com o meu astral.


Hoje eu chorei. E há tanto tempo eu não chorava. Quando aconteceu, quase não consegui acreditar em mim mesma, acreditar no que eu estava fazendo. E na frente de pessoas... Tinha segurado essas lágrimas por tanto tempo. Não dava pra acreditar que elas foram desencadeadas simplesmente porque alguém me cumprimentou gentilmente com um ‘Bom dia! Tudo bem?’. E eu não consegui mentir, a resposta maquiada não funcionou, eu tentei dizer que estava tudo bem, mas fui bem pouco convincente, meus olhos descaradamente me entregavam do contrário.

Não tinha mais força se quer pra me enganar, só me restou o suficiente pra eu me sentar, fechar os olhos e desejar que ninguém me olhasse. Eu estava com vergonha da minha demonstração pública de fragilidade.

Ainda de olhos fechados, senti que alguém se aproximava de mim. Reconheci que era alguém que só queria meu bem. Ele me tocou e disse ‘Vai ficar tudo bem, não se preocupa. Vai ficar tudo bem’. E quão bom era aquele toque, mas que vergonha eu sentia por está assim, vulnerável. Não era assim que ele me conhecia, quase sempre ele me via apenas sorrindo, não estava certo. Logo ele... Logo quem eu admiro tanto por sua resistência, sua fortaleza. E eu chorando simplesmente porque estava com medo. Sim, era um problema. Mas não, não era o fim do mundo. Mas mesmo assim ele sentou do meu lado e me acolheu.

E eu senti os olhares curiosos na minha direção. O embaraço era tão grande que num minuto eu desejei intimamente que ele não estivesse ali, no minuto seguinte eu estava imensamente grata por sua presença acolhedora. Encostei o rosto no seu ombro e escondi minha vergonha. Ele me refugiou, me entendeu. Ele foi o meu anjo.


E, no final do dia, decidiram que deveria chover.

domingo, 12 de abril de 2009

O melhor dos presente


Na volta pra casa, a conversa à toa acabou chegando num ponto pouco provável.


- Teu aniversário ta chegando, né?! Esse ano vou te dá um presente.

- Oba!

- Mas me diz, o que tu quer ganhar?

- Huummm... Que tal um certo fulano embalado pra presente e com um laço vermelho?!


A resposta foi acompanhada por risadas de ambos e uma pontinha de desejo retraído da parte dela.



terça-feira, 7 de abril de 2009

A vida e o amor ao lado do pior cão do mundo

Algumas vezes eu o olho e simplesmente deixo passar a bondade que ele me oferta gratuitamente. É inocente e eu ignoro, mesmo sem intenção, seus pequenos gestos.

Outro dia, no entanto, depois de um dia daqueles emquedáumavontadeimensademandaromundoselascar, ao chegar em casa, ele estava com aquela mesma carinha meiga, olhando pra mim e demonstrando uma imensa satisfação em me rever, balançando o rabo freneticamente. Foi só então que notei a pontinha de inveja que tenho do meu amigo. Não importa o que aconteça, eu posso até mesmo brigar com ele antes de sair, mas se eu voltar 15 minutos depois, ele terá esquecido tudo e vai está feliz simplesmente por me ver. E era assim que eu queria me sentir em relação as pessoas, afinal, elas estão sujeitas a nos decepcionar vez ou outra, mas deveremos está sempre feliz por elas, por tê-las.

Devo mesmo informar que se trata de alguém mesmo, mesmo preguiçoso. Mas que seja, ele é feliz com sua vida sedentária e suas 16 horas seguidas de sono. E que inveja eu tenho dele por isso...! E ele me defende, compra briga por mim e, de quebra, ainda é um confidente seguro.

E provavelmente eu seja bem mau compreendida por falar assim do meu cachorro, mas que culpa tenho eu se ele é muito melhor que tantas pessoas que conheço?!